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O PREFEITO



          Na minha pequena cidade natal, de Passa Quatro, que fica no grande estado de Minas Gerais, havia uma senhora, que tinha cinco filhos.  Quatro rapazes e uma menina.  Era uma família pobre, paupérrima. O marido desta senhora, tinha uma semelhança com o personagem caipira conhecido como Jeca Tatu. Era idêntico, pelo seu jeito de andar, suas precárias condições de vida e saúde, sem muito ânimo para trabalhar. 


          Viviam em uma choupana de barro, coberta de sapé, construída no terreno de um fazendeiro rico, de nome "Toin Parva" (Antonio Paiva).  A choupana ficava em meio a um "calipá" (plantação de eucaliptos da fazenda). Um dos filhos, trabalhava no "leiticino" (Lacticínio).

          Apesar da sua casinha localizada bem longe da cidade, nos arredores de uma fazenda, esta pobre senhora diariamente estava na cidade, sempre em busca de algum alimento que pudesse levar para casa, fruto da generosidade que nunca faltava, por parte da boa gente da cidade.  Muitas famílias mineiras, piedosas, sempre lhe ajudavam. 

          Nessa época, eu era um adolescente, e me escapava o entendimento da vida com mais profundidade, e até acreditava com uma certa ingenuidade, em muitas coisas ue ouvia das pessoas.  Aquela senhora, gostava de bater papo, sempre a reclamar da vida, e falar dos seus problemas.

          Contava, por exemplo, que um de seus filhos, não era "bão da cabeça" (sofria uma espécie de disritmia cerebral, conforme fiquei sabendo mais tarde);  o outro filho, também estava sempre doente:  a menina frequentava a escola, mas não aprendia nada.  Mas, em compensação, ela tinha um filho que era Prefeito...

          Prefeito?  De qual cidade será, porque desta não é, pensei comigo mesmo, quando ouvi sua estória, nas costumeiras tagarelices com os vizinhos. Confesso que fiquei mesmo pasmado, em saber que aquela senhora, pobre daquele jeito, tinha um filho que era, imaginam... Prefeito!  Somente muito tempo depois, é que me dei conta do que ela realmente queria dizer, ou seja, que todos os seus filhos eram problemáticos, e apenas um era perfeito.

          Hoje, relembrando estas estórias, percebo que aprendi outras palavras deste verdadeiro dialeto caipira, como por exemplo:
"Treis antonti" ; que quer dizer, trás-ante-ontem, no dia anterior ao de anteontem...
"Hospi" ; para dizer, hóspede...
"Lata discupada" ; vasilha desocupada...
"Cadifó" ; caixa de fósforos...
 - "A água tá pulano" ; (a água está fervendo);
- "Pó pô pó?" ; (pode colocar o pó?);
- "Pó pô" ; (pode);
- "Café tá fraco" ; (o café está fraco);
- "É café co poco pó pá popá o pó" ; ( é café com pouco pó, para economizar)...

          Moral da estória: parece que o pobre sofre uma escassez de tudo. Economiza até nas palavras. PÔ!

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