c

JOSÉ ANACLETO


Zé Créto

          "Tout est encore devant mès yeux".  Esta frase em francês, significa:  "Tudo está ainda diante dos meus olhos", e ficou gravada na minha memória desde os meus tempos de estudante no Ginásio São Miguel, lá em Passa Quatro-Mg.  Assim, fazendo jus a esta sentença, eu vou contar uma estória, fruto das minhas lembranças vividas naqueles tempos.


          Quando eu era ainda pequeno, eu tinha os meus amiguinhos, naturalmente, como todas as crianças.  Uma infância feliz, que hoje valorizo.  Naquele tempo (década de 50), ninguém fazia uso desses aparelhos eletrônicos que hoje existem, tais como note book, smartphones, celulares, etc.  E assim como nem conhecíamos essas maravilhas, elas também não nos faziam falta.

          Hoje, neste século 21, vivemos uma realidade que chega a ser espantosa; não podemos viver sem esses aparelhos, sem a internet, e até as crianças de hoje, já nascem com outra mentalidade, coisa que também nos surpreende.

          Nada contra essas tecnologias que facilitam a nossa vida.  Julgar ou criticar, não é o objetivo deste bate papo. Trata-se apenas de uma breve introdução, para que possamos conversar, contar uma estória, de como eram aqueles dias, que talvez muitos (os mais velhos) conheceram,  e que muitos (os mais jovens), nem nunca ouviram falar.

          Por exemplo: crianças hoje em dia, brincam de "Cow Boy"?  Ou sabem lá o que é isso?  Como brincar de "mocinho e bandido" do cinema americano?  Pois, naqueles tempos (não muito longe), as crianças brincavam, e até sabiam falar inglês.  Alguém acredita nisso?  Pois eu vou contar como isso acontecia.

          ... parafraseando o que dizia aquele personagem cômico da TV, o Joselino Barbacena, "Quando eu era criança pequena lá em Passa Quatro",  meus coleguinhas de "molecagens" eram:  O Dimas, o André, o Zé Créto, o Fernando, o Carlinhos, o Joaquim, e vários outros.  "Zé Créto", era o apelido de JOSÉ ANACLETO.  Mas qual a criança daquele tempo iria pronunciar corretamente esse nome?  O irmãozinho mais novo do José Anacleto, o chamava de "Zé Quéto". ( ? )

          Naquele tempo, o Rio Passa Quatro, perto de onde morávamos, sofreu um trabalho de dragagem, ou seja, uma técnica de engenharia ambiental para remoção de materiais, solo, sedimentos e rochas do fundo do rio, através de uma máquina denominada "draga".

          Pois bem, essa draga acumulava esses sedimentos retirados do rio, em verdadeiros "amontoados",  enfileirados ao longo da beira do rio.  A vegetação se encarregava de enfeitar esses "montes" com plantas rupestres de vários tipos;  ficava parecendo uma pequena floresta verde por sobre "montanhas" de terra e pedras.  O cenário assim formado, era ideal para a recreação da molecada (molecada, no bom sentido; nada de vícios ou drogas).

          Naquela época, um divertimento sadio era o cinema.  Todos os domingos, o cinema da nossa cidade, o Cine Regnier, exibia filmes de faroeste (Far West) para a garotada nas matinés.  A molecada vibrava; não havia coisa melhor..  Depois, iam todos para os "montes da draga", brincar de Cow Boy.

          Os moleques brincavam, fazendo uma verdadeira encenação ao ar livre, do que haviam assistido no cinema.  Até falavam inglês, imaginem... O inglês da molecada era um verdadeiro dialeto de fazer rir, uma comédia:  eles enrolavam a língua de qualquer maneira, imitando a fala do mocinho e dos bandidos dos filmes.

         Uma fala do Zé Créto, eu me lembro até hoje:  o coleguinha André falou alguma coisa naquele "inglês" improvisado, e o Zé Créto respondeu: - Horni horni, midigorni horni !  O que significava isso, só a molecada entendia. Ka, ka, ka, ka... Mas era divertido.  Tudo isso tinha naquele tempo, digamos, o seu "glamour".  Hoje em dia, já não teria o mesmo sabor, se acaso houvesse uma repetição desse verdadeiro "teatro de arena".

Como diz a letra de uma música: "Eu me lembro com saudade o tempo que passou;
                                                       O tempo passa tão depressa, mas em mim deixou,
                                                        Jovens tardes de domingo, tantas alegrias..."
                                                                                                 (Roberto Carlos)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

CRÔNICAS KÖHN