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BRINCADEIRA DE PAPEL


Tecnologias

          Às vezes, "pensando com meus botões", eu fico surpreso com o avanço da tecnologia.  Parece que até o papel, o lápis e a caneta já não são necessários para escrever.  A gente escreve usando o teclado de um Notebook ou Laptop.  Até mesmo a nossa assinatura, já pode ser digital; basta colocar o dedo em um leitor de dedos (datilograma).  Fotografias, são agora todas digitais.  Documentos importantes estão sendo digitalizados, e podem ser visualizados numa telinha de computador.  Cartas, recados, a gente manda por e-mail.


          Será que esses objetos (papel, caneta e lápis), que eu particularmente não vivo sem, vão ser extintos em algum momento do nosso futuro?  Se isso for mesmo um fato, eu espero não estar mais aqui quando acontecer (espero que demore muito, para se tornar realidade).

           Este assunto, me faz voltar no tempo (meu tempo de criança), onde o papel servia para brincar: papagaios (ou pipas) de papéis coloridos, das cores da nossa infância;  barquinhos de papel, para brincar na enxurrada da chuva; coleção de marcas de cigarro (algumas raras), que nada mais eram, do que embalagens de papel desfeitas, aviãozinho feito de dobras de papel, enfim, tantos outros brinquedos de papel.  Na escola, cadernos de desenho apropriados, para desenhar ou rabiscar...

          Sem mais delongas, parece que o papel e a caneta já têm data de vencimento prevista:  o futuro próximo, quando não mais serão fabricados.  Será mesmo de fato?  Eu custo acreditar, mas não quero divagar sobre isso.  Quero falar do presente momento, sem menosprezar a tecnologia, que eu também utilizo e acho incrível:  só quero dizer que não vivo sem lápis e papel. 

          Certa vez, um dileto amigo me elogiou, e disse que eu sabia escrever.  Todavia, há uma diferença relevante entre saber e gostar de escrever.  Eu gosto de escrever.  Não é fácil, mas é justamente essa dificuldade que me fascina.  Às vezes, eu tenho uma inspiração sobre um tema.  Essa inspiração, é como um sussurro ao meu ouvido.  Esse sussurro, é o motor que me impulsiona a escrever. 

          Escrevo, mas tenho que cavar palavras.  E às vezes, cavar é duro como quebrar rochas.  Voam pedaços de palavras por todo lado.  É preciso lapidá-las, e não consigo fazer isso se eu não tiver uma ferramenta na mão.  Minha ferramenta no caso, é o meu lápis.  Meu textos são como um passatempo feito com palavras.  Acho que eu penso como a escritora Clarice Lispector, que assim escreveu em um de seus trabalhos:

          "Escrevo por não ter nada a fazer no mundo:  sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens.  Escrevo porque sou uma desesperada e estou cansada, não suporto mais a rotina de me ser, e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.  Mas preparada estou para sair discretamente pela porta dos fundos".  (Eu também, mas é só de brincadeira: brincadeira de papel)
pensamentos

NOSSA VIDA NOSSA PROSA


Guilherme Köhn

          Gosto de conversar, escrever, contar estórias, casos engraçados, enfim, prosear sobre qualquer assunto.  Mas antes de iniciar esta reflexão sobre a nossa vida, vou contar uma breve estória bíblica, sobre Sodoma e Gomorra.  Não pretendo abordar nenhum tema teológico, mas sim fazer uso de uma estória puramente alegórica, para ilustrar um pensamento apenas. 


          Essa estória, para quem quiser conferir, está no livro do Gênesis, capítulo 19, e a sua mensagem final serve para nossa reflexão.  Vamos pois, à estória:

          ... Lot, era um israelita sobrinho de Abraão, e vivia com sua família (mulher e duas filhas), na cidade de Sodoma.  Mas, o Senhor Deus decidiu destruir as duas cidades próximas uma da outra: Sodoma e Gomorra.  O motivo, foi devido ao elevado nível de promiscuidade (pecados), praticados pelos habitantes daquelas cidades. 

          Mas, eis que os anjos do Senhor avisaram à família de Lot, para que fugissem para as montanhas, e que de forma alguma olhassem para trás, enquanto as cidades eram  destruídas por labaredas de fogo e enxofre.  Porém, a mulher de Lot, desobediente, olhou para trás, lamentando os bens materiais que teria deixado lá na cidade.  Como castigo pela sua desobediência, foi imediatamente transformada em uma estátua.

          E assim termina o resumo dessa estória (uma parábola).  Qual seria então a sua mensagem?  Vamos refletir um pouco sobre a nossa vida atual. 

          Acho que todos nós, ou a maioria, em maior ou menor grau, já passamos por alguns infortúnios.  Os mais diversos possíveis.  Todos eles, nos deixaram feridas, traumas, dores, enfim, nada que o tempo não fosse capaz de cicatrizar.  Todavia, eventualmente, ainda sofreremos até hoje, se ficarmos meditando e lamentando aquilo que passou. 

          (Observação:  talvez, pessoas mais jovens, ainda não tenham passado por tais dissabores, ocultos na mente daqueles que sabem o que é isso, por terem vivido essas experiências.  Nesse caso, esta reflexão servirá para o enriquecimento interior na mente dos jovens.

          E assim, continuando o raciocínio, a vida poderá se tornar um fardo pesado, se nos agarrarmos aos desgostos antigos, às decepções do passado, ou às oportunidades perdidas.  Enfim, cada um tem o seu drama secreto, guardado na mente. 

          A parábola de Sodoma e Gomorra, nos deixa a seguinte mensagem:  Não vá fazer como a mulher de Lot:  não olhe para trás.  O que passou, passou.  Desobedecer a Deus, ou seja, não perdoar os nossos "inimigos", também é algo sério, devemos pensar nisso. 

          Pois bem, se alguém se sentir inserido nestas considerações drásticas sobre a nossa vida, poderá também reverter a situação, mudando sua atitude mental em relação à vida, de um modo geral.  Nas redes sociais, está sendo compartilhado um texto com algumas recomendações ou atitudes positivas para melhorar a nossa felicidade e a nossa autoestima, como por exemplo:

  • A inveja é uma perda de tempo Agradeça pelo que possui...
  • Esqueça questões do passado.  Viva o presente;
  • A vida é curta demais para odiar alguém.  Perdoe sempre;
  • Faça as pazes com o seu passado para não estragar o seu presente;
  • A vida é uma escola e você está nela para aprender.  Não fique repetindo o ano;
  • Ninguém comanda a sua felicidade a não ser você;
  • Não necessite ganhar as discussões.  Saiba perder;
  • Sorria e gargalhe mais. 
" O que cremos sobre a vida após a morte afeta diretamente o que cremos sobre a vida antes da morte"  (N.T. Wright)

"O fraco jamais perdoa:  o perdão é uma das características do forte"  (Mahatma Gandhi)

VAMOS VIVER A NOSSA VIDA !
A mulher de Lot



ENSINAMENTOS BUDISTAS


Guilherme Köhn

          Na Índia de hoje, no sul da Ásia, as religiões praticadas são o hinduísmo, o budismo, o cristianismo e outras mais. Sua cultura é milenar, e há muito tempo, era costume um homem possuir quatro esposas.  Conta a história, que certa vez, o Buda fez um sermão onde ele falava sobre as "quatro esposas", mas num sentido totalmente espiritualista.  No sermão proferido por Buda, ele contava a seguinte estória:


          ... Um homem (indiano), estava muito doente, e sabia que estava para morrer.  Ele tinha quatro esposas.  Sendo assim, ele resolveu perguntar a cada uma de suas esposas, se elas o acompanhariam ao "outro mundo", no momento da sua morte.

          Então ele chamou a primeira esposa e lhe perguntou: - "Minha amada esposa, por toda a minha vida eu amei você.  Mas agora que eu estou para morrer, você me acompanharia nesta viagem para o além?"  A primeira esposa lhe respondeu: - "Eu sei que você sempre me amou, mas agora que vai morrer, este é o momento da nossa separação.  Adeus".

         O homem chamou então a segunda esposa e lhe fez a mesma pergunta: - "Você iria comigo, para o "outro mundo", no momento da minha morte?"   Mas a segunda esposa também se recusou: - "Se a sua primeira esposa não aceitou acompanha-lo, por que eu deveria ir com você?  Seu egoísta!"

          Diante dessa negativa, o homem chama a terceira esposa e também repete a pergunta, mas ela responde: - "Tenho pena da sua partida deste mundo, mas eu lhe acompanharei até o momento do seu enterro".  Portanto, esta terceira esposa também se recusou a seguir com o esposo em sua morte.

          Por último, o homem se lembra da quarta esposa, para a qual nunca teve muito afeto.  Ao contrário, tratava-a como escrava.  O homem moribundo, pensava que ela também diria não a ele, e que fosse para o "outro mundo" sozinho.  Mas, qual não foi a sua surpresa, quando ela sim, aceitou o seu pedido: - "Meu querido esposo (disse ela), eu irei com você!  Não tem sentido eu me separar de você".

Observação:
          Essa estória do Buda, é uma parábola, tal como fazia Jesus, ensinando através de parábolas, ou seja, estórias fictícias fundamentadas numa sabedoria que fazia com que as pessoas entendessem o significado prático.  Depois de contar essa estória, o Buda esclarecia o seu significado, tal como segue:

          ... Todo homem ou toda mulher, possui quatro esposas ou quatro maridos, que assim se apresentam e representam:

PRIMEIRA ESPOSA:
          A primeira esposa (ou marido) consiste em nosso corpo.  Nós amamos nosso corpo, dia após dia, noite após noite... Cuidamos dele e o vestimos com as melhores roupas.  Mas, na hora da nossa morte, o nosso corpo (primeira esposa), não pode nos acompanhar em nossa partida deste mundo.  O corpo é cremado, e tudo o que resta são cinzas.

SEGUNDA ESPOSA:
          A segunda esposa, são as coisas materiais:  nosso dinheiro, nossa fortuna, tudo aquilo que lutamos para conquistar.  Ao final da nossa vida, tais posses não podem vir junto conosco.  Viemos a este mundo de mãos vazias, e partiremos de mãos vazias.  Tudo que nosso ego conquistou, aqui ficará.  Tal como disse a sua segunda esposa: - "Seu egoísta!"

TERCEIRA ESPOSA:
          Todos nós, temos uma terceira esposa, ou marido...  Este significado consiste em nossos relacionamentos com nossos pais, irmãos, parentes e amigos em geral.  Eles nos acompanharão até o momento do nosso sepultamento.  Ficam entristecidos, mas nada mais podem fazer. 

QUARTA ESPOSA:
          Aquela que nos acompanha até a morte.  O que representa?  A quarta esposa, é a nossa mente, carregada  de nossos sentimentos de amor, ou ira, avidez, descontentamentos.  Tudo aquilo que pesa em nossos sentimentos, constituem o nosso CARMA, decorrente da lei de causa e efeito.  Nós nunca nos separamos do nosso carma.  Tal como a quarta esposa disse: - "Eu o seguirei onde quer que vá".

"Quando morremos, nada pode ser levado conosco, com a exceção das sementes lançada por nosso trabalho e do nosso conhecimento".  (Dalai Lama)
Guilherme Köhn


CRÔNICAS KÖHN